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A tradução do Quixote
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Seguem os artigos publicados no Globo, Jornal do Brasil e na Folha de São Paulo sobre a tradução do Quixote feita pelos professores Carlos Nougué e José Luis Sánchez.

Quixotesca fé na ficção

Gustavo Bernardo

O engenhoso fidalgo D. Quixote da Mancha: Primeiro Livro, de Miguel de Cervantes Saavedra. Tradução de Carlos Nougué e José Luis Sánchez. Editora Record, 570 páginas. R$ 67,90 

Dom Quixote da Mancha, que comemorou 400 anos em 2005, tem sido reduzido a uma de duas identidades: ora um idealista que combate as injustiças, ora um louco que quer a todo custo se tornar um personagem literário. No entanto, Dom Quixote é ambos e outros tantos ao mesmo tempo, porque ele será também herói, palhaço, sábio e santo. Dom Quixote veio para confundir e fazer pensar, se nenhuma das suas facetas dá conta da sua personalidade e verdade. 

Lembra-se mais das suas derrotas, como perante os moinhos de vento. No entanto, uma releitura do romance de Miguel de Cervantes reconheceria, nos 40 embates de Dom Quixote, 20 derrotas perfeitamente equilibradas por 20 vitórias. Divisão tão perfeita mostra que o romance elabora um sistema de relativização tanto da vitória quanto da derrota. Consciente de que “o mundo é um carnaval onde tudo se confunde”, o fidalgo transforma derrotas em vitórias, considerando estas tão naturais quanto aquelas. 

Dom Quixote provoca o riso, sim, mas como precondição do saber: saber o quanto não se sabe; saber que a realidade-toda não é acessível ao humano; saber que a fé é necessária. Fé não bem na divindade, mas sim na sua própria ficção (que pode tomar a forma de uma divindade). Trata-se de uma fé que não delega nem implora, antes se responsabiliza pelo que crê e cria. 

Sonho louco de se tornar um personagem de ficção 

O sonho louco de Dom Quixote era o de se tornar um personagem de ficção. O fantástico da história, entretanto, é que ele já era um personagem de ficção; portanto, melhor elogio à invenção humana ainda não houve. Como lembrou Carlos Nougué no lançamento da mais nova edição brasileira da obra, Miguel de Cervantes funda o romance moderno e acaba com ele numa só penada, se nenhum outro chegou tão longe. A história de Dom Quixote contém e realiza todas as possibilidades do romance, inclusive a de inventar-se por dentro. 

Na apresentação desta edição, Francisco Corral, diretor do Instituto Cervantes, lembra que o Quixote joga o leitor no terreno fecundo da dúvida. O romance afasta das certezas dogmáticas e cumpre a nobre função de semeador de dúvidas, como mais tarde, no Brasil, Machado de Assis — que, para Carlos Fuentes, deveria se chamar “Machado de La Mancha”. 

E que trabalho pode suscitar mais dúvidas do que o trabalho de tradução, e tradução deste romance em particular? Por isso, uniram-se para a empreitada o brasileiro Carlos Nougué, prêmio Jabuti de Tradução, e o espanhol José Luis Sánchez, que já verteu para a sua língua vários romancistas brasileiros e estuda a língua espanhola do século XVI. É a primeira dupla bilíngüe de tradutores, mas não a primeira dupla que enfrenta Cervantes em língua portuguesa. No século XIX, os portugueses e Viscondes de Castilho e Azevedo fizeram a tradução ainda hoje mais editada mesmo no Brasil. A meio do século XX, Almir de Andrade e Milton Amado assinaram a tradução publicada então pela José Olympio. Essa duplas revivem os amigos Dom Quixote e Sancho Pança, discordando para melhor se acordarem. 

Nougué e Sánchez enfrentam uma equação de três incógnitas: como escreveria Cervantes o Quixote no português de sua época, mas de modo tal que não perdesse o sabor hispânico de então e fosse compreensível para o leitor de hoje? Para resolvê-la, fazem centenas de escolhas, a começar pelo nome do personagem. “Quijote” corresponde à peça da armadura que cobre a coxa e deveria ser traduzida para “coxote”, mantendo a terminação “ote” que, em espanhol, tem sentido depreciativo. No entanto, os termos “Quixote” e “quixotesco” se tornaram parte intrínseca da língua portuguesa, o que justifica a manutenção do nome consagrado. Mas, contra as traduções anteriores, optaram por “da Mancha” e não “de La Mancha”, se em português se fala da Espanha central como “a Mancha”. 

Logo no prólogo, um termo perigoso para a tradução 

Já na primeira frase do prólogo há um termo perigoso. O autor diz que o leitor talvez quisesse que o livro fosse “el más hermoso, el más gallardo y más discreto que pudiera imaginarse”. O termo “discreto” tinha à época, além do sentido de “reservado e circunspecto”, o significado de “sensato e inteligente”, recordando a raiz comum com o verbo “discriminar”. Recente tradução de Sérgio Molina, publicada pela Editora 34, segue os Viscondes e verte “discreto” por “discreto” mesmo, embora em nota faça a ressalva do duplo sentido. Nougué e Sánchez optam por traduzir “discreto” por “judicioso e agudo”, entendendo que o leitor não tem obrigação de guardar a história e a memória das palavras. 

Também na famosa primeira frase do romance há um impasse a se resolver. Molina traduz “En un lugar de La Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme”, por “Num lugarejo de La Mancha, cujo nome ora me escapa”. Nougué e Sánchez preferiram se manter próximos ao original, traduzindo o passo por “Num vilarejo da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me”. Parece-me a melhor escolha. Ainda que no espanhol da época a expressão pudesse significar tanto “não desejo” quanto “não consigo lembrar-me”, a primeira opção deixa clara a construção intencional de dúvidas e ambigüidades. 

Há um outro momento-chave no livro. Intercala-se no meio do romance, enquanto dorme Dom Quixote, a conhecida novela do curioso impertinente. Uma das personagens, Camila, ao ouvir um poema de amor, pergunta: “¿todo aquello que los poetas enamorados dicen es verdad?”. O outro personagem, Lotário, responde enigmático: “en cuanto poetas, no la dicen; mas en cuanto enamorados, siempre quedan tan cortos, como verdaderos”. O termo “cortos” pode significar “concisos” ou “limitados”. Os Viscondes preferem a última acepção e eliminam a noção de verdade: “como poetas não a dizem, mas como namorados nunca a chegam a dizer inteira”. Molina opta por uma bela solução metafórica, mas também recalca a noção de verdade: “enquanto poetas, não a dizem, mas enquanto enamorados, sempre lhes fica alguma no tinteiro”. Nougué e Sánchez permanecem perto do original, ao explicitar a noção paradoxal do silêncio que diz a verdade: “enquanto poetas, não a dizem; mas enquanto enamorados, sempre ficam tão sem palavras como são verdadeiros”. 

Os poetas não dizem a verdade porque ela lhes vem a posteriori, pela própria poesia. A verdade não se encontra em nenhum lugar, esperando ser recolhida, porque é não mais do que um efeito do discurso. Os enamorados não dizem a verdade toda, justamente para que o amor não perca sua condição constitutiva de enigma. A tradução deste trecho é importante, porque resume a poética de Cervantes. A verdade poética é da ordem daquela fé que não delega nem implora, antes se responsabiliza pelo que crê e cria. 

GUSTAVO BERNARDO é professor de Teoria da Literatura na UERJ e autor do ensaio “A ficção cética” (Annablume, 2004) 


D. Quixote com sotaque brasileiro 
Nova tradução do clássico de Cervantes facilita a compreensão dos leitores sobre a obra 

Vivian Rangel 

Entre as ilusões de Dom Quixote, ao lado de moinhos de vento transmutados em gigantes ou monges de São Bento assumindo o papel de endemoninhados raptores de princesas, poderia figurar uma tradução perfeita da própria narrativa. Tal qual o destemido cavaleiro, foram poucos os paladinos das letras brasileiros que se aventuraram nas batalhas de tradução da obra, considerada a fundadora do romance moderno. Ao grupo dos corajosos juntam-se Carlos Nougué e José Luis Sánchez, tradutores de O engenhoso fidalgo D. Quixote da Mancha, que chega às livrarias esta semana. 

O lançamento serve de estímulo para os leitores que ainda não se aventuraram ao lado do cavaleiro que enlouqueceu de tanto ler livros e também para os que se assustaram com a linguagem da obra. No caso brasileiro, além da pouca familiaridade do leitor médio com os clássicos, explica o acadêmico e crítico literário Ivan Junqueira, a obra demorou a chegar ao país. No século 17, quando cerca de 1.500 exemplares circularam pela europa e aportaram também em países como México e Cuba, o Brasil não tinha imprensa, proibição alterada apenas dois séculos depois. A primeira tradução que chegou em terras verde-amarelas foi feita para o português lusitano, a conhecida versão dos viscondes de Castilho e Azevedo, uma tradução definitiva para Junqueira, mas pouco acessível aos não-iniciados. 

- É natural que o leitor brasileiro sinta uma espécie de abismo entre o português antigo, na tradução dos viscondes, e a língua atual. Mas é preciso ter em conta que toda a tradução é dificílima. Dante Milano dizia que só é possível traduzir o que o autor quis dizer, nunca o que ele disse - opina o acadêmico. 

Em 2005, no aniversário de 400 anos na obra, várias editoras relançaram o livro em versões de luxo, adaptações infantis e juvenis e até mesmo quadrinhos, mas pela primeira vez uma tradução oficial para o português é avalizada pelo Instituto Cervantes. Para Nougué, especializado em clássicos como obras de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, o maior desafio de uma nova tradução era manter a atmosfera da narrativa espanhola, sem ser incompreensível ao leitor de hoje. 

As dificuldades práticas começam na compreensão de pedaços do texto, como os provérbios arcaicos que demandam muita pesquisa histórica. As condições em que Cervantes escreveu a obra, incluindo o período na prisão e o acidente que lhe rendeu uma mão aleijada, resultaram em erros de continuação e dúvidas sobre grafias de nomes e referências. E ainda há o problema da edição da obra, considerando que os tipógrafos do século 17 interferiam nas páginas dos livros e o trabalho de revisão era no mínimo precário. 

Sánchez explica que a primeira tarefa foi fazer um estudo lingüístico de época. Ao trabalho etimológico seguiu-se uma pesquisa sobre os personagens históricos presentes na história, alguns, célebres na literatura espanhola, outros, frutos da imaginação de Cervantes. 

- A mistura de ficção e realidade é um dos principais desafios da obra de Cervantes. O engenhoso fidalgo D. Quixote da Mancha não é só o maior romance da literatura universal, mas também um dos mais complexos - afirma o espanhol. 

A fórmula encontrada para manter a originalidade da obra, sem aderir a uma adaptação, foi rechear o livro com notas históricas, apresentação detalhada e até mesmo comentários sobre as possíveis intenções do autor espanhol ao construir determinadas frases. 

- Fizemos uma edição semicrítica, contextualizando o ambiente socio-político da época e ao mesmo tempo pensando nas barreiras que o leitor poderia encontrar. Por isso, mesmo algumas palavras dicionarizadas estão no rodapé. Pensamos não no leitor cultíssimo, mas naqueles que buscam a cultura - explica Nougué. 

A complexidade da prosa de Cervantes está também no ritmo, que adquire cadência poética em várias frases. Manter o curso da narrativa chega a ser uma tarefa hercúlea na tradução das poesias presentes em toda a obra. Ferreira Gullar - poeta e autor de uma adaptação de Dom Quixote lançada em 2002 - lembra que nem sempre um equivalente poético pode ser alcançado: 

- Um poema em qualquer língua, sobretudo se rimado e metrificado, é produto de uma casualidade - quando Cervantes escreve em espanhol ele escreve o que é possível em sua língua. Isso torna o trabalho da tradução uma busca dificílima, e faz com que nesse sentido qualquer tradução seja também uma adaptação. 

Vencidos os mistérios da prosa e poesia de Cervantes, é fácil compreender que a influência de Quixote na literatura brasileira, ainda que tardia, é definitiva. Segundo Ivan Junqueira, ecos de Cervantes são ouvidos ainda no barroco brasileiro, em fragmentos de obras de Gregório de Matos e Antonio José da Silva, o judeu. Mas a herança do personagem espanhol se torna evidente no realismo, com Machado de Assis. E se espalha em romances como Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, Romance da pedra do reino de Ariano Suassuna e Fogo Morto, de José Lins do Rego. 

A inovação em misturar ficção e realidade e a compreensão de que o mundo é um símbolo jamais deixaram de figurar nos romances contemporâneos. A universalidade dos temas, os dramas da alma humana, como o conflito entre aparência e mundo real, a finitude e o amor continuam os mesmos. 

- O homem é muito velho - brinca Ivan Junqueira. 

Nougué - que já está preparando a tradução da segunda parte das aventuras do cavaleiro - acredita que é a dimensão humana de Quixote, em suas contradições e loucuras, que apaixona os leitores. Sánchez acompanha as aventuras do cavaleiro desde a infância, quando era obrigado a ler trechos do livro. Para sorte dos brasileiros, o tradutor tem na memória afetiva recordações de um tempo em que o cavaleiro errante ainda não era um desafio, mas apenas motivo de orgulho. 

- Na Espanha, todas as turmas até a oitava série eram obrigadas a se reunir em uma sala para ler as aventuras do cavaleiro. Os alunos mais velhos zombavam dos tropeços dos mais novos, mas eu gostava de ler e sempre ganhava elogios do professor. A figura de Quixote ficou eternamente relacionada a boas lembranças. 


Nova tradução da obra de Cervantes remete texto ao português arcaico 

Julián Fuks

Devidamente acreditadas as mentiras da ficção, Miguel de Cervantes não chegou a ser nem o primeiro tradutor de "Dom Quixote". Antes dele, um mouro inominado foi quem deu formulações castelhanas para as palavras do árabe Cide Hamete Benengeli, este sim o verdadeiro autor da imaginária história de cavalaria (convém ignorar que "benengeli", em árabe, significa "filho de cervo", ou seja, Cervantes).

Impossível determinar qual dos três deu forma ao profético personagem de Sansão Carrasco, que, referindo-se à história do fidalgo, afirmou que "não há de haver nação em que não se leia, nem língua em que não se traduza". Mas fato é que, ao menos no Brasil, Carrasco acertou novamente, e chega às livrarias mais uma tradução de "O Engenhoso Fidalgo D. Quixote da Mancha" (Record, R$ 67,90, 574 págs.), feita em parceria pelo brasileiro Carlos Nougué e o espanhol José Luis Sánchez.
Desta vez, um trabalho sem dúvida peculiar já no objetivo previamente estabelecido pelos tradutores, o de responder a uma "equação de três incógnitas: tentar construir a maneira como Cervantes teria escrito no português de então, sem perder o sabor hispânico, mas de modo compreensível para o leitor atual", nas palavras de Nougué.
Assim, foram em busca de um português arcaico que ainda sobrevivesse na compreensão dos leitores, para isso sendo necessária uma ampla pesquisa lingüística que determinasse a época de nascimento de cada palavra. O resultado é um texto que se aproxima dos arcaísmos e do sabor temporal da primeira tradução ao português, feita pelos Viscondes de Castilho e Azevedo em 1876, mas que resulta muito mais legível e compreensível do que esta.

"Quando alguém escreve, e sobretudo alguém do porte e da altura de Cervantes, está profundamente enraizado em sua época. Isso não significa só que descreve o contexto social, político, religioso ou cultural daquela sociedade. Significa também que descreve como isso se expressa na linguagem, e é por isso que o tradutor precisa remetê-la à mesma época", afirma Nougué, justificando o procedimento que adotaram.
Nesse sentido, diferencia-se da tradução que preponderou no Brasil na segunda metade do século passado, feita por Almir de Andrade e Milton Amado, mas não tanto da última a ser lançada antes desta, a de Sérgio Molina, em 2002. Nenhum trabalho foi em vão: Sánchez e Nougué se valeram de todas essas traduções para criar a deles, em alguns casos "simplesmente tomando algumas das boas soluções encontradas".
Tudo para enfrentar as dificuldades apresentadas pelo texto, do sem-número de provérbios recitados pela voz popular e sã de Sancho Pança às constantes e surpreendentes metrificações da linguagem de Cervantes, poética mesmo na prosa. Afora isso, o dilema de corrigir ou manter os erros gramaticais e anacolutos cometidos pelo próprio autor, sem falar nos erros de continuidade.

Por enquanto, foi só o primeiro livro da série, o segundo sendo prometido ainda para este ano. Render-se ao clichê e dizer que se trata de trabalho "quixotesco" pode produzir efeito impreciso. Mas conhecerá a grandeza de tal definição quem se deparar, palavra trás palavra, com a beleza e a loucura do inesquecível personagem.


Versão brasileira

Débora Yuri

Eles vivem à sombra de nomes como Gabriel García Márquez e J.K. Rowling. São parte ativa, mas dificilmente lembrada, dos fenômenos literários de 
vendas -a não ser quando o trabalho merece reparos. Fazem a ponte entre o universo de um autor e a realidade do leitor.

Às vésperas da 19ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que vai expor 
mais de 200 mil títulos a partir da próxima quinta-feira, a Revista decidiu 
conferir como vivem os tradutores de alguns dos livros mais vendidos do 
país, gente que, embora escore obras de sucesso, não costuma aparecer em estandes ou reportagens da temporada literária.

Não há uma regra para definir quando um livro é considerado best-seller, 
segundo a Câmara Brasileira do Livro. Mas, em um país pouco afeito à 
leitura, uma obra que consegue vender 20 mil exemplares já pode integrar 
esse seleto rol -tomando por base a tiragem média de um livro normal, que é 
de 2.000 a 3.000 cópias.

As obras enfocadas aqui ultrapassaram com folga esses números: "Harry 
Potter", a série de seis livros publicada em 200 países, já vendeu incríveis 
2,5 milhões de exemplares no Brasil; "Memória de Minhas Putas Tristes", o 
último romance do colombiano Gabriel García Márquez, 193 mil exemplares; o 
hit mundial "Freakonomics", que destrincha a economia nos fatos do dia a 
dia, já passou de 110 mil cópias; e "O Caçador de Pipas", ficção que ocupa o
topo das listas nacionais, mais de 150 mil exemplares.

Mesmo com o mercado literário bem mais ativo, a tradução dificilmente é a 
primeira carreira de um brasileiro com nível superior. Paga-se pouco à 
maioria dos tradutores, o que pode explicar a situação. Um profissional da 
área editorial ganha, em média, de R$ 13 a R$ 20 por lauda traduzida. Há 
exceções, como Eric Nepomuceno, que não recebe por página e sim por obra traduzida do colombiano García Márquez.

Mas o panorama melhorou nos últimos anos; agora já da para viver de 
tradução, dizem os profissionais. "A globalização aumentou as oportunidades 
de trabalho no Brasil e no exterior. Portanto, se conselho fosse bom, eu 
encorajaria os jovens que se interessam por tradução a expandir seus 
conhecimentos sobre culturas estrangeiras e também a brasileira", diz Lia 
Wyler, a avó por trás da série "Harry Potter".